Monday 15 August 2016

Artigo de - Joseph Praetorius, publicado por ele a 1 de Agosto (Post language: PT)

imagem minha




Transcrevo o texto que para além de excelente, induz à reflexão:

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Influência Política da Colina Vaticana



(Joseph Praetorius)

A França de Bernanos e Claudel, de Gabriel Marcel, de Maritain, de Lubac e Chenu desapareceu. Era também a França de Villey e dos mestres de Paris II, em Direito. Era ainda a França do Cardeal Daniélou, um membro da Academia - de quem a sordidez lembra apenas que faleceu em casa de uma loira, intuindo-se que se fosse em casa de um loiro haveria menor problema - e era também a França - como esquecê-lo ? - de Teillard. E do Abbé Pierre, mais eficaz quanto ao fundamental do que qualquer organização socialista. Foi preciso que a voz dele o exigisse para terminarem os despejos no Inverno, como se fosse razoável que a propriedade de alguém pudesse valer a morte pelo frio de um indefeso.

Impressiona o vazio persistente - um legado do Papa Voitila - depois de tão espectacular reconciliação dos católicos com o pensamento filosófico e científico, que as acusações de modernismo haviam complicado em grau elevadíssimo até ao Vaticano II. Mas a este vazio sucede um outro. Inegável. A influência política da Colina Vaticana em França é completamente negligenciável. Residual. Desprezível.

Os sobressaltos do casamento homossexual fizeram regressar os católicos às ruas. Pelo protesto moral conservador. Os novos cínicos, como os romanos chamavam aos cristãos, deviam desconfiar sempre da moral conservadora, a meu modesto olhar. Podia ter havido posições inteligentes. Era preciso ter pensado no fenómeno (o que ninguém fez em tempo útil e em tal quadrante). Restou a coisa moral, parece. Mas a coisa moral não precisa do cristianismo para nada. Retire-se qualquer formalidade de presença católica e fica a coisa exactamente igual. Eles regressaram às ruas. Mas não à inteligência.E a influência política do clero em França continuará nula enquanto não ressurgir o pensamento capaz de dar mestres intelectuais às gerações a quem queira transmitir-se a respectiva herança. Não chegam comentadores.

Já em Portugal a situação é a inversa. A colina vaticana nunca aqui teve muita gente inteligente ao longo do séc. XX. Havia o Padre Manuel Antunes que como professor da Faculdade de Letras reunia auditórios apreciáveis de gente que, simplesmente, o queria ouvir e ia à Faculdade fazê-lo. (Um jesuíta, evidentemente). Havia um outro em Coimbra. E o famoso Bispo do Porto.

O resto parece-me caricatural (embora eu não seja um especialista, que não sou nem papista, nem papistólogo). Mas a vacuidade era e é tão grande que até Marcelo Rebelo de Sonsa veio armar em pároco, comentando os evangelhos do dia (um teólogo é outra coisa) e faz de beato apropriando-se de referências das escolas de oração da Ortodoxia (porque o oportunismo não tem limites) largando então aquela da oração "natural como respirar" . O Metropolita António Bloom e o Bispo Jean de Saint Dennis devem ter dado dois saltos. Relembro Mons. Kovalevsky quanto a esta exacta matéria - " tenho medo de falar com facilidade de coisas das quais não é fácil falar-se". O homem não faz, como é hábito, a menor ideia do que está a dizer.

As gentes da colina vaticana em Portugal são caricaturais. E caricatural é a sua influência social e política, assente em pequenas astúcias que vão da intriga ao folclore - compreendendo o folclore universitário - e às modinhas, compreendendo a modinha da católica, um antro de doentia conspiração contra os Direitos Fundamentais (a fábrica de Cavaco, mas também a de Pinto de Albuquerque, o juiz que quis condenar penalmente uma testemunha, em processo que não corria contra ela e escapou às consequências disciplinares - se bem percebi - sendo admitido como professor da católica).Em França, os da colina vaticana não acedem às condições mínimas da visibilidade respeitável; aqui, mantêm uma visibilidade sem respeitabilidade possível. Abram-lhes os processos (imprescritíveis) pelas práticas de pedoclastia e nada sobrará.
Portugal é uma terra completamente descristianizada, excepção feita a duas ou três estruturas protestantes de convicções sólidas e tradições respeitáveis, estruturas de entre as quais sublinho o COPIC com o qual a minha proximidade organizacional é nula, mas é credor da minha simpatia nos planos social e político... A Aliança Evangélica é, também ela, intensamente respeitável em muitas das suas organizações.
Nas organizações da colina vaticana neste território é que a respeitabilidade rareia. E aquela ostentação de túnicas de Malta e mantos do Santo Sepúlcro nas procissões das ruas da baixa de Lisboa (não têm dinheiro para as fardas, será?), traduz um folclore arcaico que poderia não ser políticamente inocente, se acaso o grotesco não o matasse à nascença.

E na selvajaria das legiões da Opus não há, politicamente falando, nada que mereça sequer o epíteto político de católico conservador. São apenas legiões de selvagens. Nem a aproximação lhes consinto.

No meio desta série de desgraças, a minha simpatia (política) por Francisco de Roma não podia ser maior. Liderar estruturas absolutamente embrutecidas, plausivelmente psicotizantes ou neurastenizantes, confiando que os jovens podem renovar tudo e tudo sarar, não é pequena coisa.Mas a minha simpatia por Francisco de Roma não me deixa esquecer a observação sábia de Jaspers: não pode chamar-se à posição de mestre aquele a quem cabe o intinerário de discípulo. Porque ninguém pode dar o que não tem.
Espero em todo o caso que consiga fazer alguma coisa com o estado em que lhe deixaram as estruturas organizacionais. Confio que nestas matérias não haja impossíveis. Aqui, por brilhante que possa ter sido o passado longínquo, o presente tem genericamente - haverá certamente gente estimável algures - o valor do lixo tóxico. Politicamente falando. Socialmente falando. Religiosamente falando. Humanamente falando. 





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